domingo, 2 de outubro de 2011

UFRN: território livre para as drogas?


O uso de drogas ilícitas nas dependências da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) está preocupando pais e alunos da instituição. Relatos de estudantes mostram que a situação está ficando fora de controle e que o uso de entorpecentes acontece a qualquer hora do dia e, ao contrário do que pode-se imaginar, em locais de intensa movimentação como os corredores das salas de aulas. Maconha, cocaína e até o crack foram as drogas citadas pelos alunos e professores que falaram com a equipe de O Poti/Diário de Natal. O problema se agrava com a impossibilidade de atuação da Polícia Militar dentro do campus, por se tratar de uma área federal, e a falta de pessoal suficiente para fazer a guarda da UFRN.

A denúncia do uso explícito e excessivo de drogas na universidade partiu de um servidor e foi confirmada por muitos alunos e alguns professores, mas quase todos pediram para se manter no anonimato, temendo represálias. De acordo com o servidor, a reitoria tem conhecimento da prática, mas não toma medidas contundentes para combatê-la. "Todo mundo sabe, os professores sabem, a reitora sabe, é um fato comprovado. Basta andar nos corredores da UFRN para presenciar alguém fumando maconha. As pessoas fazem uso de drogas durante o dia, à noite, sem nenhum constrangimento. E não é só maconha, existem registros de uso de crack e cocaína nas dependências do campus", disse o servidor.

Segundo ele, estudantes, servidores e até mesmo pessoas que não fazem parte da comunidade acadêmica, se sentem seguros usando drogas dentro da universidade já que a Polícia Militar não faz ronda no local. "Digamos que é um ambiente seguro para o uso de drogas porque a PM não entra na instituição, então os usuários ficam muito à vontade. A situação é muito preocupante porque uma vez que a droga chega à universidade presume-se que alguém está levando. Não existem provas, mas há evidências de que já existe tráfico de drogas dentro da UFRN. O assunto é muito sério e existe uma inércia em relação a uma política de combate. O discurso dos gestores é que a universidade é uma instituição democrática, pública, mas o uso de drogas vai de encontro à dignidade universitária. Além disso, em uma democracia as pessoas também precisam cumprir as leis e as drogas não são liberadas no Brasil.", afirmou.

A estudante de enfermagem Bruna Paulino, de 21 anos, não teve receio de se identificar e confirmou que o uso de maconha nas dependências da UFRN se tornou algo banal aos olhos dos gestores da instituição. "É muito comum o uso de drogas tanto por alunos quanto por servidores. Eu já presenciei servidores fumando maconha dentro da copa, alunos fumando nos corredores. É tão comum, se tornou tão banal, que nem parece que se trata de uma universidade de um país onde as drogas não são legalizadas. Está todo mundo tão acostumado que as pessoas que não se acostumam com esse convívio com as drogas, como eu, por exemplo, são tratadas como se fossem as erradas", disse.

Pró-reitora não reconhece problema nas proporções relatadas em denúncia

Procurada pela reportagem de O Poti/Diário de Natal, a pró-reitora de Assuntos Estudantis, Janeusa Trindade, afirmou que a instituição não tem conhecimento do uso de drogas dentro da UFRN nas proporções relatadas nesta matéria. Ela explicou que a instituição segue à risca a resolução nº. 53/2009 que "regulamenta procedimentos administrativos de prevenção e combate a drogas lícitas e ilícitas no âmbito da UFRN, bem como de apoio social e atenção a usuários" e ressaltou o procedimento adotado pela universidade em casos de uso de drogas nas dependências da instituição.

"A segurança patrimonial é responsável por manter a ordem dentro do campus. Se o segurança faz o diagnóstico que têm usuários ele comunica o fato à reitoria e a ela instaura um processo de investigação. O segurança pode inclusive abordar a pessoa, e solicitar que ela se retire da instituição, mas ele não tem poder de dar voz prisão, porque só quem tem essa autoridade aqui dentro é a Polícia Federal porque aqui é uma instituição federal", explicoua pró-reitora.

Janeusa Trindade ressaltou que a UFRN é terminantemente contra o uso de drogas, mas admitiu que existem usuários em todos os segmentos: professores, alunos, e servidores em geral. "Aqui dentro da universidade nós temos pessoas que são adeptas, defensoras do uso da maconha, por exemplo. Nós já tivemos inclusive uma marcha da maconha que aconteceu dentro do campus. Nós vivemos em um ambiente democrático e temos que ouvir todos os discursos, mas nós - como formadores - somos contra o uso, e não somos coniventes com o uso de drogas", disse.

Investigação

Em relação a um possível tráfico de drogas dentro da instituição, a pró-reitora afirmou que a denúncia será apurada, levada à reitoria, para que sejam tomadas as medidas cabíveis. "É importante este tipo de denúncia para que a gente leve essa preocupação da sociedade à reitora para começar um novo caminho de abordagem, fazer uma reconstrução desse processo de combate e prevenção. A nossa preocupação é proteger quem está dentro da UFRN dessa entradade droga e, se for o caso, iremos acionar a Polícia Federal que é quem tem autoridade aqui dentro. Denúncias como essas são importantes para redimensionar as nossas ações", afirmou.

Fonte: Fernanda Zauli, da redação do Diário de Natal

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